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domingo, 4 de julho de 2010

o fim


Cá neste leito vazio não paro por um pequeno instante de pensar no que foi e no que será, mas sem dúvidas, o será é tão claro quanto esse coração que com cuidado se arrasta a bater, e eu podia fechar os olhos, me desesperar, chorar, me entregar, ou tanto faz, mas agora, uso esse tempo que ainda me resta neste plano pra só pensar em coisas que me alegraram, me puseram feliz, memórias que eu não ousava relembrar faz tempo, e nossa, quanto tempo. E choro, choro rindo do que a minha vida foi, e do tempo que perdi, ou ganhei, tempo que só e não obstante, vivi.
Talvez, correr mais, encher a cara, viver mais amores e encher a cara novamente fossem coisas que eu devia ter acrescentado em maior quantidade à minha vida, viver mais amores, sem preocupações, sem ligar pra notas ou números, ou pro futuro.
Futuro, essa palavra foi bem pensada e cada escolha tinha esse quesito em análise, sinceramente, se pudesse ter meu passado inteiro nesse momento, eu jogaria esse quesito fora, não seria fácil, mas vivendo o hoje, o faria. No final a gente sempre acaba aqui e assim, uns mais velhos, outros mais novos, causas diversas, almas diversas, um único fim .
Hoje estou me definhando nesta cama fria e branca de um hospital que o nome não me recordo, pra quê nomes? Filhos e netos me visitam, mas pra quê visitas? Com 93 anos vividos muitas lembranças me correm e escorrem pelo tempo que se esgota cada vez mais rapidamente, as ruins que me frustraram tanto um dia, eu jogo fora com a maior facilidade, de quê elas me adiantam agora? E aqueles bens comprados, aquele dinheiro arrendado, aquele carro, aquela casa, ah, eu podia ter investido em uma viagem, hoje me dariam mais lembranças boas, ou talvez não, quantas brigas e quantos amores já vivi naquela casinha velha? Ah, foram muitos.
Sinto que me vou daqui alguns minutos e por mais estranho que pareça, me sinto leve por não me arrepender de nada, nenhum peso, nenhuma mágoa, me vou como vim, sem choro sem fim, sem saber bem de mim, puro e crente assim, que venham meus querubins, pra me levar e sim, eu vou feliz enfim.

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